domingo, 24 de junho de 2012

Manos Franciscanos


Manos Franciscanos

Raul Marques


Thomaz Vita Neto
Freis do Lar São Francisco, de Jaci, durante evangelização em acampamento de funcionários da fundação: músicas com letras religiosas mas em estilo e coreografia para atrair público jovem
A dança ajuda freis franciscanos de Jaci a levar a palavra de Deus com mais facilidade ao jovem. Os religiosos descobriram que para evangelizar não é necessário ser sisudo, proferir termos incompreensíveis para a maioria e estabelecer barreira inquebrantável. As escrituras sagradas são transmitidas conforme o zelo que a tarefa exige, mas com alegria, música e muita coreografia.

Eventos religiosos, acampamentos e retiros espirituais realizados na região são pretexto para apresentação dos freis. As músicas são todas de origem cristã. O diferencial é como são mostradas: com uso de ritmos populares e mundanos como rock, rap, reggae e até axé músic. Assim, chegam mais próximo da realidade das pessoas, do que escutam e conhecem. Não é à toa.

O papa João Paulo 2º, morto em 2004, chamou a atenção sobre a necessidade da Igreja se modernizar e estar atenta às tendências. Escreveu em carta direcionada à juventude: “Precisamos de santos de calças jeans e tênis; precisamos de santos que vão ao cinema, ouvem música e passeiam com os amigos; precisamos de santos que bebam Coca-Cola, comam hot dog, usem jeans e sejam internautas...”

Esse pensamento norteia a postura dos 18 freis e cinco freiras, além de 19 postulantes, que moram atualmente nas dependências da Fraternidade São Francisco de Assis da Providência Divina. A maioria é jovem e, é claro, tem história, experiências e vivências antes do ingresso na vida religiosa.

“Não podemos ficar parados no tempo. Todo mundo usa computador e celular. Não é porque estamos na Igreja que somos obrigados a continuar na máquina de escrever”, afirma o frei Carlos Burdini, 26 anos, que comanda as apresentações.

Os freis não são espalhafatosos. Chegam devagar para não causar estranhamento, mas sabem muito bem o que estão fazendo. Sobem ao palco, assumem os instrumentos musicais e pegam os microfones. Conversam, fazem brincadeira e desenvolvem as primeiras coreografias. Pedem para o público usar um braço, depois outro, levantar, agachar e dispensar energia na hora de louvar.

O público acompanha tudo com grande atenção - de jovem à idosos. O entrosamento aparece rápido. Ninguém fica parado. Uma comunhão se forma.
Na sexta-feira, 15, a reportagem acompanhou um retiro realizado em Jaci, com 120 funcionários da instituição, de várias cidades paulistas e até do Rio de Janeiro. Entre os visitantes havia católicos, leigos e evangélicos. Quase todo mundo se deixou contagiar com as canções entoadas pelos freis.

“A música e as coreografias estabelecem união ainda mais forte entre as pessoas”, afirma Júlio César Viana, 21 anos. Evangélico, ele é funcionário do hospital administrado pelo lar em Ilha Solteira e participou de forma espontânea do encontro. “O retiro é espiritual, não importa a religião. Deus é um só.”

André Luiz da Rocha, 30 anos, é de Jaci mesmo e fica feliz em participar da celebração, tanto faz como ouvinte ou na organização. “A gente chega mais perto de Deus. A música é algo divino.” Como não se trata de concerto de rock ou micareta, há momentos intimistas também, mas sempre acompanhados por canções, que variam de 15 a 20 por apresentação. Metade é animada e metade executada com calma para oração.

São compostas pelos próprios freis ou pertencem à artistas da área.
“Os jovens gostam das músicas e coreografias. Elas trazem alegria e nos ajudam a louvar Deus. Queremos mostrar a face jovem da Igreja. Acompanhamos tudo o que acontece”, afirma frei Carlos.


Thomaz Vita Neto
Público se contagia com a apresentação dos religiosos e segue os passos animados da dança
A dança é uma ferramenta da evangelização

Música, dança e animadas coreografias são apenas mecanismos para aproximar o evangelho do jovem, mas não o principal trabalho dos freis de Jaci.
“O nosso foco são as pessoas necessitadas, como dependentes químicos, abandonados e idosos. A dança está inserida no contexto da evangelização. É uma ferramenta”, afirma frei Carlos Burdini, 26 anos.

O Lar de Jaci tem duas casas para acolher quem precisa de ajuda. As cem vagas estão sempre ocupadas, e há lista de espera. O serviço, gratuito, é referência no Estado. Os freis franciscanos são totalmente desapegados e moram no próprio lar.

Eles usam hábito e sandálias, não têm objetos pessoais e dormem em um quarto com pouca infraestrutura. Ninguém reclama. “Queremos levar a mensagem de amor ao próximo de Jesus Cristo e levantar o homem caído, na visão de São Francisco. Quando atingimos isso, nos sentimos realizados”, afirma frei Carlos.




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